Projeto Mulheres

Projeto Mulheres

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A evolução do Projeto Mulheres

Quem acompanha o trabalho da behavior sabe que em 2013 realizamos o Projeto Uno. Este projeto foi uma continuidade natural dos Projeto Mulheres e do Projeto Homens, projetos realizados em 2010 e 2011 respectivamente que que nos trouxe o entendimento dos caminhos que as novas identidades femininas e masculinas estavam seguindo.

O Projeto Uno terminou agora no início de 2014. A partir de agora, todo nosso conhecimento será compartilhado no blog Movimentos Humanos, que tem como missão contribuir com a reflexão neste momento de grandes mudanças sociais, institucionais e, naturalmente, pessoais.






Agradecemos a todos que acompanharam o Projeto Homens até aqui e os convidamos a continuar nos acompanhando nos Movimentos Humanos, também no Facebook.

Nós vemos lá!

Nany Bilate

O cavalo nosso companheiro em 2014

http://movimentoshumanos.blogspot.com.br/2013/12/o-cavalo-nosso-companheiro-em-2014.html

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Workshops de Autoconhecimento e Reflexão sobre as identidades femininas e masculinas contemporâneas



Após os Dialogos Construtivos realizados na semana passada na cidade de Curitiba- PR com a participação de mais de 60 homens e mulheres, iniciamos a etapa dos workshops do Projeto Uno.

Será um dia inteiro de dinâmicas, discussões e reflexões sobre nós, seres humanos, mulheres e homens com nossos novos e velhos papéis sociais e a sociedade contemporânea. Tudo isso conduzido por profissionais da área de Desenvolvimento Humano.


Participe! aproveite esta oportunidade de vir se conhecer um pouco mais e descobrir assuntos do interesse de todos.


Participar não tem custo nenhum, todos os custos, incluindo um delicioso almoço, serão pagos pelo Projeto Uno e ainda você ganha uma gratificação - ajuda de custo - pela participação e deslocamento até o local do workshop.


Para participar precisa enviar um email para  projetouno@behavior.com.br  colocando a frase: quero participar do workshop feminino ou masculino em ... (colocar a cidade em que você mora: São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre ou Recife). 


o calendário dos workshops é:


sábado, 29 de junho - Porto Alegre - feminino

sábado, 6 de julho - São Paulo - masculino
sábado, 13 de julho - Belo Horizonte - masculino
sábado, 10 de agosto - Recife - feminino.

O Projeto Uno irá selecionar de acordo as cotas de idade, classe econômica, estado civil, se tem ou não filhos, que existe na amostra do Projeto Uno.



Esperamos você!

domingo, 23 de junho de 2013

Movimentos Humanos, um espaço de troca e reflexão



Todo o aprendizado que tivemos com o Projeto Mulheres, o Projeto Homens decidimos colocá-lo a disposição no blog Movimentos Humanos para contribuir com a reflexão sobre as identidades femininas e masculinas da sociedade contemporânea.

Conheça, aproveite e nos ajude a promover essa discussão.

sábado, 30 de março de 2013

Entrevista para os Repensadores


Assista ao vídeo em que Nany Bilate fala sobre os resultados do Projeto Mulheres para a Rede Repensadores.





sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Os cinquenta tons de cinza da mulher moderna

A trilogia Cinquenta Tons da inglesa E. L. James, pode ser explicado pela falta que as mulheres bem sentindo do macho. Independente dos gostos pessoais no plano sexual - o livro trata de sadomasoquismo - a descoberta do prazer pela protagonista nas mãos de um homem sedutor e dominador, me lembra o desejo, nem sempre expresso diretamente, de várias mulheres participantes do Projeto Mulheres, de quererem o  homem-macho ao seu lado.

Quem é esse homem-macho? no meu entendimento está longe de ser o homem autoritário e machista que é o que vemos por ai. É contra esse homem que as mulheres estão se impondo dia-a-dia; é contra essa dominação provinda de papéis sociais arcaicos, no sentido de antigos, que parecem não ter mais razão para muitos de nós. 


Ao longo dos meus estudos tenho compreendido que as mulheres vêm lutando corajosamente para tentar se colocar no ambiente público com iguais direitos ao homem. Essa luta, trouxe à luz os anos todos de submissão, dor e, em muitas casos, humilhação que as mulheres têm vivido por séculos. Somemos a isto o sentimento de indignação ao perceber as próprias escolhas erradas embasadas em crenças que não lhes são mais pertinentes. O resultado, muitas vezes, é a raiva.

Considero que muitas mulheres estão raivosas. E essa raiva, como é comum acontecer quando aflora, se expressa contra o outro. O outro, neste caso, é o homem. O culpado, para muitas, de toda a dor feminina. 

Este cenário está no ar. Está no nosso dia-a-dia. É assim que as mulheres assumiram publicamente, e descancaradamente, diga-se de passagem, a crença que são melhores que os homens. Crença que vem sendo construída há mais de um século, criando filhas mais independentes, criando homens mais dependentes, com menos capacidade de se virar no mundo. É só ouvir as mulheres falando sobre os homens e sobre si mesmas que esta realidade se torna contundente. 

E como fica o homem neste cenário? Enfraquecido. O homem atual tem muito de resultado das falas femininas que afirmam a superioridade da mulher sobre praticamente todas as coisas. Num mundo de hipervalorização do politicamente correto, como ir contra? Como se colocar sem parecer machista ou antiquado?

Acredito que a violência urbana e o femicidio tenha também a ver com isto. O  homem não aprendeu a se colocar no mundo moderno ainda. A se impor sem a força física ou a força do poder. A mulher também não tem contribuído para ajudá-lo nesta busca. 

O resultado são mulheres que sentem falta do homem-macho. O homem seguro, firme. Internamente, seguro e firme. Aquele que sabe. Aquele que acompanha. Aquele que é capaz de ser leal aos compromissos assumidos. Aquele que segura e assegura. Como ela sente que é capaz de ser. Especialmente nos momentos mais difíceis. Nisso que ela quer a igualdade. A mulher está cansada de seu papel de toda poderosa. De ser a Atlas que segura o mundo. É por isso que ela vem tentando despertar o homem-macho. 

O caminho da sexualidade, talvez seja o caminho novo - embora muito antigo - de tentar integrar esse homem-macho ao seu companheiro. É despertar nele aquele homem que é capaz de tomá-la nos braços e a fazê-la mulher.

domingo, 13 de maio de 2012

Somos filhas de nossas mães, queiramos ou não


Hoje é dia das mães e por isso minha reflexão sobre o peso delas nas nossa vidas. Além de sermos filhas - com todo o peso genético, físico, emocional e moral disso - somos também mulheres, iguais a elas.

No Projeto Mulheres e no Projeto Homens, a relação com a mãe mostrou-se um dos pontos cruciais para as decisões de vida tomadas pelos entrevistados, mesmo que a maioria, nem se dera conta dessa importância. 

Com a transformação do papel social da mulher nas últimas seis décadas, nossas mães sofreram na pele a abertura de um novo modelo, de quebrar formas antigas de participação social. Sofreram com o peso social da ruptura. Isso gerou mães fortes, as vezes duras, outra frágeis e temerosas; muitas infelizes e outras alegres e leves; algumas irresponsáveis, outras, excesso de responsabilidade; algumas incrédulas com o amor e a sociedade, outras fortalezas de fé e esperança. Algumas protagonistas de suas vidas e outras no papel de vítimas,  responsabilizando os outros pelas decisões tomadas.

A relação mãe e filha é mais difícil do que muita mulher gosta de admitir. Mas nas entrevistas, num ambiente seguro isso fica claro. Muitas tentam fugir do modelo materno, correndo na direção contrária, sem compreender que mesmo longe, esse modelo ainda lhes persegue e rege suas decisões. As crenças e os medos das nossas mães latejam insistentemente na nossa mente e no nosso coração. A crença sobre o masculino costuma vir delas. Portanto, essas crenças dominam nossa forma de relacionamento romântico. É um perigo se não temos consciência disso. Mais ainda quando, como o Projeto Mulheres mostrou, é um dos maiores anseios femininos, amar e ser amada por um companheiro.

Revisitar a mãe é revisitar nosso feminino. Conviver, hoje em dia, para mim, é a melhor forma de curar feridas. A distância, oculta, disfarça mas, no meu entendimento de hoje, contribui pouco para a cura. Embora, devo admitir, haja momentos que fugir pareça a melhor coisa a se fazer. Para conviver de verdade, estando com nossas mães, ouvindo, trocando e não somente falando socialmente com elas, temos que estar prontas em ver em nós essa mãe se manifestando. Ver que muitos de nosso atos são a lembrança viva das nossas mães. Nem sempre estamos prontas para isso, sei bem. Nesse caso, tudo bem. Se dê um tempo. Mas lembre que a hora tem que chegar, para o bem seu e das próximas gerações femininas da sua família.

Um caminho de reconexão é ver o mundo através do ponto de vista delas e entender que fizeram o melhor, e aceitar o livre arbítrio que tiveram em fazer de suas vidas o que fizeram. Algumas são exemplos estimulantes, brilhantes; em outros exemplos do que não faríamos, mas em ambos os casos é justamente por  elas serem assim, que somos como somos. 

Honrar a mãe, para mim, hoje, mais do que um peso moral, é um compromisso de cura com a minha feminilidade, com meu lado mulher, com a minha existência. 

domingo, 29 de abril de 2012

A forma de gesso, mulher moderna, versus o desejo profundo por um companheiro


Parece não importar como a mulher está - crescendo profissionalmente ou como dona de casa, jovem ou mais velha, com dinheiro ou ainda construindo uma situação financeira que lhe dê segurança - a grande maioria quer, muito, um companheiro na sua vida. Isso é uma realidade que o Projeto Mulheres trouxe de forma contundente. 

Quando falo isso nas apresentações que realizo, a reação feminina, especialmente das mais jovens, costuma ser de discordância e incredulidade. Vejo nos olhos dessas mulheres, um olhar crítico e censurador às minhas falas. Como assim uma mulher moderna querer um companheiro acima da sua liberdade? Cadê sua personalidade que a faz um ser autossuficiente? Cadê seu senso de independência?


Essas reações me leva a crer que dentro do estereótipo de mulher moderna  que nós como sociedade criamos, desejar um companheiro, acima de muitas coisas individuais, é quase uma heregia. É um voltar atrás nas conquistas femininas alcançadas. É quase uma ofensa para as mulheres que sofreram pela nossa independência.

Óbvio que essa mulher moderna, criada por nós, é mais uma forma de gesso - dentre tantas que a sociedade cria para dizer o que é certo e o que é errado. Quando compreendemos que a humanidade costuma evoluir por polaridades - fazendo em zig zag, um aspiral ascendente - e que cada polaridade qualifica a próxima etapa, pelo seu oposto; compreendemos que a figura da Amélia - dona de casa, colocando a família acima dela própria, dependente, obediente e submissa - só poderia trazer como imagem aspiracional para as mulheres da geração seguinte, uma mulher, que não tem um único nome e que é forte, independente, autossuficiente, que abre mão, literal ou emocionalmente, da responsabilidade da família; e neste caso, quando a possibilidade financeira lhe permite, delega essa responsabilidade para babás, escolas, psicólogos e terapeutas de todos os tipos.

É também por causa desse forma de gesso, mulher moderna, que negamos tanto o desejo do companheiro perante os outros, especialmente, perante as outras. A sós, após de mais de uma hora de conversa sobre desejos, alegrias conquistas e dores, as mulheres chegavam, em sua maioria, a nos declarar o desejo do companheiro como quem manifesta um segredo, um pecado. Como se ele, trouxesse a luz uma fragilidade feminina: 'não sou forte o suficiente para viver sem um homem' pareciam nos confessar as entrevistadas. Essa visão de fragilidade deve estar sustentada, provavelmente, pela crença, limitante em minha opinião, que mulher forte vive sem homem. 

E aqui vale um aparte, ainda em minha opinião, claro, tornaria essa crença construtiva com o simples fato de tirar dela a palavra 'forte': mulher vive sem homem. Assim como homem vive sem mulher. Viver só, em solitude, não necessariamente está associado a força mas a temperamento. Portanto, o contrário, viver em núcleo sociais menores como em família, tampouco representa fraqueza, não é verdade? Se meu raciocínio fizer sentido, então, porque acreditamos que uma mulher, plena nos seus atributos de sedução e atração, que vive sem um companheiro, é uma mulher forte? De onde vem essa ideia? Quais conceitos e crenças estão associados a ela? Porque fazemos uma associação tão intrínseca entre mulher moderna = mulher independente, e essa imagem no seu ápice = mulher só? Vamos lembrar das polaridades? da Amélia? Esse, creio eu, é um dos pontos dessa grande teia que formam as nossas crenças sobre o feminino, sobre a mulher moderna.

Irei discutir mais sobre essa grande teia neste blog. Mas agora gostaria de voltar para a forma de gesso mulher moderna e o que ela, está ocultando.

O policiamento que realizamos socialmente para manter o novo mito de mulher moderna parece estar nos obrigando a mentir até para nós mesmas. Então, no discursivo, a bandeira da independência é levantada imediatamente. Nada contra. Mas, tudo contra, quando isso é só fachada. Quando isso oculta um outro grande núcleo analítico que obtivemos no Projeto Mulheres: a tristeza e o cansaço que as mulheres estão sentindo.

No Projeto Mulheres tudo está interligado na grande teia que construímos da essência feminina contemporânea. Um ponto interfere e mexe nos outros. De um lado, a mulher moderna - independente, feliz, forte, autossuficiente - e de outro a, simplesmente, mulher atual - triste, cansada, desejosa de um (bom) companheiro.

Há pontos positivos na mulher atual? Claro que os há! Muitos. Mas o mais forte que captamos dessa mulher foi o seu cansaço, o seu desejo de um bom companheiro e a tristeza que lhe causa, não conseguir isso com plenitude.

sexta-feira, 16 de março de 2012

E tudo o que eu quero é namorar

Como falei alguns posts atrás, o assunto que deu abertura ao nosso estudo foi perguntar as entrevistadas do Projeto Mulheres Brasil, qual seria o sonho pedido a uma fada madrinha. Para enriquecer nossa pergunta, utilizamos o Material Behavior de Projetivas, uma seleção de imagens baseada em papéis sociais. A maioria das imagens escolhida mostravam o pedido em se converter na mulher que a mídia, e nós, estabelecemos como símbolo representante da mulher contemporânea feliz: bem arrumada e maquiada, bonita com um corpo firme e delgado, ativa e poderosa. Ao observar o quadro que as imagens formavam conseguimos ver essa mulher com ares auto-suficiente, e, quem sabe por isso, se apresentando só.

A segunda opção mais pedida era uma mulher dividida em mais dimensões  de interesse: amor, profissão, vida saudável, família... Eram dois quadros claros e distintos que apresentavam duas mulheres com visões de vida e objetivos diferentes. Compreendemos, então, que agrupadas pelo sonho da vida ideal, tínhamos dois grandes grupos de mulheres.

Quando olhamos melhor para o conjunto de imagens escolhido por todas, tal qual um taró, surgiu uma outra imagem, menos óbvia, mas que estava latente nesse baralho de imagens: o desejo de viver uma relação romântica.

O que representa todo o símbolo da 'Relação Romântica' varia, claro, de acordo à visão de mundo de cada uma, mas esse desejo unia as entrevistadas que comportamentalmente, poderiam parecer pessoas de planetas diferentes.

Para mim, especialmente, foi uma surpresa entender que andamos tanto na nossa independência e mesmo assim parece que tudo o que mais queremos, ainda hoje, é namorar, amar e ser amadas, ter um companheiro.

O que representa o símbolo da 'Relação Romântica', foi, sem dúvida, o maior eixo analítico que permeou o Projeto Mulheres Brasil. Sob essa lente conseguimos compreender muitas escolhas, decisões, atitudes e comportamentos, mesmo de mulheres de 'planetas' diferentes. Entender porque ainda é tão relevante na vida das mulheres. Porque o caminho só, quando é uma opção, parece muitas vezes, ser uma falta de opção.

Dois anos depois do Projeto Mulheres Brasil ter começado, fica mais claro para mim hoje, quando leio e vejo todas essa tendências de moda, comportamentos, fatos que acontecem e gosto de acompanhar, o que está por trás. Como esse símbolo 'relação romântica', tal qual uma mola propulsora nos move, e vamos dizer a verdade, há muitos e muitos milênios. 

No fim, como mulheres e como humanidade, tivemos que dar essa volta toda, quebrar todas as barreiras, queimar todos os sotiens, físicos e imaginários, para, aos poucos, compreender e aceitar, que, nosso grande sonho ainda é viver uma linda história de amor.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres ou Energia Feminina?





Particularmente não gosto de sexismos nem nada que exalte as diferenças e, assim querendo ou não, alimenta a escala hierárquica de melhor ou superior; por isso hoje, sendo o Dia Internacional da Mulher fiquei pensando sobre a importância dessa data nas pessoas. O que realmente ela representa? como ela mexe com as mulheres e os homens?

Do meu professor de ioga veio algo maravilhoso - à Saudação à Lua - que não conhecia e ativou em mim o sentimento de humildade. Do Boechat veio o resgate real - e o Projeto Mulheres e o Projeto Homens tão bem mostraram - de quem mais ganhou espaço e poder nos últimos 100 anos - até por estar como lanterninha. Ele usou a vestimenta como exemplo e lembrou como a mulher conseguiu se libertar de vestimentas opressoras - como o espartilho - entanto o homem ainda usa, e muito, sapato com meia neste país cada vez mais tropical. Embora, devo dizer para ser justa, que existam cada vez mais homens  usando tênis, e tudo o que representa, como nos traz a revista eletrônica estilotênis.

Do Facebook vieram diversos post comemorativos: músicas dedicadas, imagens, poemas, flores virtuais. Até de minha mãe veio o "parabéns filha". Cada um a sua maneira é atingido pelo Dia Internacional da Mulher. Para boa parte, creio eu, serve para reforçar uma crença; para outros serve para repetir palavras ou gestos no automático para ser politicamente correto; e para alguns, sem dúvida, serve para refletir; que para mim, é o principal motivo dessas datas todas existirem. De uma forma ou de outra, traz o tema à mesa. E ai, como sempre, cada um o aproveita a sua maneira. Viva o livre arbítrio, sempre.

Pois bem, minha reflexão hoje não é sobre a mulher mais sobre o feminino, embora seja ela, a mulher, que hoje o representa, especialmente na nossa cultura ocidental. Para continuar com minha reflexão gostaria de me afastar de formas e gêneros e me ater a aquilo que venho aprendendo nas últimas décadas: a energia feminina presente em todos os seres humanos. Essa energia acolhedora, geradora que é capaz de engravidar - fisicamente ou não - e gestar nosso futuro. Essa energia que para se manter forte precisa estar cada vez mais com os pés no chão, o coração para frente e a cabeça nos céus, porque faz a conexão entre os mundos de cima e de abaixo, interno e externo, conhecido e desconhecido. 

Essa energia que segue um ritmo interno que parece não ter fim, que ora, tal qual um rio caudaloso, serpenteia delicadamente as margens, ou ora desce abruptamente levando consigo tudo o que estiver na frente. Tentar represar esse rio só machuca a alma, tentar traduzi-lo racionalmente só limita, aquilo que não é possível de ser compreendido pelo lado esquerdo do cérebro. Para compreender a energia feminina é necessário abrir mão do conhecimento cognitivo. É experimentar e se deixar levar, para depois sim, usar seu partner de milênios: a energia masculina, e decodificar para agir. Sabendo sempre que nessa decodificação há uma seleção e portanto uma perda. Mas sem prejuízo porque o que decodificamos é o que temos capacidade de assimilar naquele momento. O que ficou, está lá, latejando dentro de nós prestes a nos inundar de forma avassaladora quando menos esperamos.

Fazer as pazes com esse aspecto do feminino - a 'devoradora de homens' como foi chamada por milênio - acredito que nos ajuda a sermos mais saudáveis. Nós mulheres, também precisamos fazer as pazes com esse feminino. Parar de ter pudor - e medo - em tomar consciência dessa força toda, sair do armário literalmente. Assim deixaremos de ser  arrogantes e prepotentes com nossas qualidades femininas tão exaltadas hoje em dia ou o oposto, frágeis e medrosas, por estarmos animicamente anêmicas ao cortarmos o fluxo desse rio que, tal qual o sangue, nos traz o fluxo da vida. 

Os homens precisam parar se temer o feminino que está neles e os torna intuitivos e pouco racionais porém muito mais sábios, conhecedores do que se é. E sobretudo, parar de ter medo do feminino nas suas mulheres. O mito de devoradora de homens existe, e como todo mito, é um pouco verdade, é um pouco mentira, mas ele se torna mais verdade quanto mais se nega ele, porque é na negação que ele ganha poder.

Não interessa o sexo, muito menos a opção sexual, essa energia está presente em cada um dos seres humanos vivos e é a ela que eu dedico minha reflexão, minha honra e meu pedido de hoje ao Universo: que todos nós possamos, cada vez mais, honrar esse feminino dentro de nós.

domingo, 16 de outubro de 2011

A minha diva se foi

Sexta feira foi um dia de grandes emoções, a minha diva, Shirley, pediu a conta e partiu. Mais uma vez vi e vivi o que o Projeto Mulheres trouxe tão claro: o desejo das guerreiras descansar. Chamo Shirley da minha diva porque é uma mulher que admiro e considero maravilhosa. Jovem com quase 30 anos de idade, mãe de 2 filhos casou jovem como tantas mulheres moradoras da periferia de São Paulo. Trabalha desde os 12 anos, lutadora foi construindo sua vida aos poucos. Sem instrução completa encontrou no emprego doméstico o seu ganha pão. Alguns anos atrás o destino lhe pôs a prova, seu marido sofreu um acidente e foi aposentado por invalidez. 

Shirley se viu com dois filhos pequenos e um marido que não podia mais arranjar emprego. Sem ter tempo para sentir pena de si mesma ou entrar em depressão, foi a luta. Ou melhor, foi lutar mais. Guerreira trabalhava o dia inteiro, chegava em casa e ficava até a uma da manhã cuidando da casa para depois acordar as quatro e começar o novo dia. Aos poucos seu marido foi ajudando-a em casa, com os quefazeres, com as crianças. Foi assim que a conheci. Ela buscando um emprego, eu buscando alguém para me ajudar em casa. 

Durante o tempo que contamos com sua ajuda, ela foi uma pessoa especial nas nossas vidas. Sorridente, de bom humor, sempre disponível e atenciosa. Mesmo com sua história, não se colocava no papel de vítima, nem levantava bandeiras. Consciente de sua força, não culpava os outros pelas dificuldades, acreditava que a vida era assim mesmo, e, mesmo assim, valia a pena vivê-la. 

A vida não endureceu a Shirley. É isso foi o melhor exemplo que ela me deu. Empática sempre considerava que havia gente com vida mais difícil do que ela. Guerreira de coração e não no ego, tratava com doçura todas as pessoas.

Na nossa casa encontrou carinho e respeito. O emprego estável trouxe para seu lar tranquilidade e novas ambições. O ano passado junto com o marido decidiu abrir um pequeno comércio que o marido toca durante a semana. No final de semana ela vai para a rua 25 de Março fazer as compras e ajuda também na lojinha. Com isso criaram uma boa estabilidade financeira. A lojinha vai de vento em popa.

A estabilidade foi permitindo que esta guerreira tomasse consciência do seu cansaço, 'cansaço de alma' como diria uma das minhas mestres. E ele veio com tudo, trazendo consigo a dor de anos de luta que só a pausa é capaz de fazer notar.

Agora dá para parar e é o que a nossa Shirley vai fazer. Ela me disse isso chorando, sentida por nos deixar. Mas como não compreendê-la após ter ouvido dezenas de mulheres guerreiras cansadas de lutar? Cansadas de viver o tempo inteiro na energia masculina da ação, sem poder se permitir viver a energia feminina da recepção, do cuidar, do acalentar? Impossível.

Cuidar e cuidar-se, acalentar e acalentar-se exigem pausa, reflexão. E para isso precisamos deixar o estado de alerta, de luta ininterrupta. Quase todas as mulheres que ouvimos anseiam imensamente poder sair do estado constante de alerta, de luta. Mas para isso, acredito eu, precisa haver confiança na vida em primeiro lugar, e para quem tem, confiança no seu companheiro. E essa são duas coisas a Shirley, minha diva, tem. 

Vai Shirley, deixe a energia feminina tomar conta de você e seja feliz! 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Aparência física: opressão ou fortalecimento?

O debate sobre a importância que as mulheres dão à aparência ainda está longe de acabar. A busca, em alguns casos, incessante pela magreza e a beleza, tem levado muitas mulheres a fazerem desatinos colocando em risco sua saúde física, mental, emocional e financeira. Por isso, não é a toa que existam aqueles que considerem a exposição massante nas mídias de mulheres belas, jovens e magras como formas modernas de manipulação social e psicológica de mulheres. Para algumas linhas feministas, tudo orquestrado pelo poder masculino que não se conforma em ter perdido sua majestade.

Sem dúvida, a mídia é exaustiva quando mostra como a beleza de fato conquista sucesso - e aqui considerando o 'sucesso' vendido por ela, aquele que é composto de dinheiro, fama, poder, pessoas bonitas e felizes que nos amam muito. A mídia também diz como essa beleza deve ser, padronizando tipos e estilos, sempre sob o pretexto de nos ajudar a ser 'nós mesmos'.

É evidente que tantas mensagens midiática têm seus efeitos sobre as mulheres e que muitas  entrevistadas no Projeto Mulheres, trouxeram algum tipo angústia relacionada à aparência física. Assim, a busca pela beleza e magreza pode tornar-se, só para dar um exemplo,  mais um check list  a 'ter' que cumprir, na vida de quem tem "mil e uma obrigações", e que não vive o 'discurso igualitário' na vida real. Mal dá tempo para fazer as obrigações prioritárias, e ainda precisa se cuidar fisicamente, sob o risco de ser recriminada socialmente por não representar 'a mulher que se ama', leia-se a mulher moderna.

Porém, foi impressionante constatar que a busca pela beleza - mesmo midiática - ajudou muitas mulheres na últimas décadas a superarem desafios e dores. Significou, em muitos casos, a oportunidade de retomar, iniciando pelo físico, seu tempo, seu corpo, seu espaço, sua vida. Foi através do físico - caminho muitas vezes mais fácil e acessível - que as mulheres foram encontrando novas formas de expressão e de gosto pela vida. Foi no espaço da beleza que muitas  mulheres encontraram outras mulheres e com isso histórias similares e formas de trocas que contribuíram, em muito, para a superação.

E foi também no exercício de se embelezar, que mulheres focadas na sobrevivência financeira ou em se colocar no mundo do trabalho, até pouco tempo atrás, preponderantemente masculino, começaram a lembrar que eram mulheres. Começaram a redescobrir o prazer de se maquiar, de se cuidar, de voltar a ser mulherzinhas. No cuidado com a pele, encontrou o tempo, para parar e fazer sua 'meditação ativa', extraindo desses momentos, mais do que uma beleza física. 


Quem sabe o cuidado com a beleza também pode ter contribuído, de alguma maneira, para que as mulheres decidissem que era hora de parar e ser mãe de novo? São tantos fatores que se entrelaçam que fica difícil definir qual foi a origem do que, e também não existe a pretensão aqui de fazer essa exposição mas sim de mostrar que a beleza tem tido um papel muito importante na retomada do feminino pelas mulheres. 


Mesmo que tenha sido uma pressão social o ponta pé inicial, no exercício da prática, algo talvez adormecido começou a aflorar, aquela mulher mais feminina apareceu e começou a tomar conta de outras dimensões além da beleza, do físico. É só olhar em volta e acompanhar a moda mais floral, com seus vestidos, sejam estes longos ou curtos, exagerando nas rendas, tricot e bordados. Tudo isso, é claro, acompanhado pelos sapatos de plataformas e saltos altíssimos, para nos lembrar que feminina sim, mas poderosa e dona do seu destino, também.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O aspiracional feminino: aparência, poder financeiro e prazer sexual

Perguntamos as nossas entrevistadas o que desejariam ganhar num passe de mágica e as escolhas foram quase unânimes: melhorar a aparência física, ter mais dinheiro e mais prazer sexual. Fica claro, num primeiro momento, que o sonho geral é ser uma mulher poderosa, dona de si e do mundo. Bonita e gostosa, com ampla liberdade para a busca de seu prazer sexual e exercer, sem culpas, o jogo da conquista. Tudo isto, claro, sustentado por um poder de consumo infinito. 


Essa resposta veio tão fácil e quase unânime que se não tivéssemos cuidado, acreditaríamos piamente nela. Por isso decidimos, rever e parar para analisar melhor. Compreendemos assim, que existe uma mulher criada pela mídia que exerce um fascínio sobre a maioria das mulheres. Essa mulher símbolo é aquela 'pós ombreiras' que depois de conquistar o espaço público durante as últimas décadas, já inserida no mercado de trabalho, dividindo ou até sustentando a sua casa e família; agora está querendo cuidar novamente de si, ou seja, voltando-se para si mesma, para seu espaço privado.


Como todo movimento pendular no processo de evolução humana, a volta nunca se é no mesmo nível do ponto anterior. Em cada movimento há um avanço, em cada extremos há aprendizados apreendidos que são elaborados e assimilados levando a mudanças comportamentais. Por isso, nossa mulher símbolo do século XXI mesmo voltando-se para si, não o faz recolhendo-se, buscando sua verdadeira essência na intimidade; ela já conhece o âmbito público e seus códigos, e de tanto apreender a lidar com eles, talvez tenha até se esquecido de ser somente ela. Assim, mesmo sendo um movimento em direção a si mesma,  ela o torna público utilizando códigos externos que lhe garantem o reconhecimento do sucesso da empreitada na sua viagem a si mesma.


Cuidar de sua estética, estar na moda e agora ser uma amante resolvida, são códigos que demostram publicamente que ela se ama e que tem autoestima bem resolvida. Se amar é quase um mantra para a mulher moderna. Não priorizar-se é quase não se amar, o que significa uma ofensa contra todas as mulheres. A cobrança social que as mulheres fazem sobre aquelas que estão menos preocupadas em aparentar tanta autoconfiança é grande. Há quase uma militância feminista que vigia todas nós mulheres, e o pior que muitas vezes nós fazemos parte dela. 


E é aqui que mora o perigo. Percebemos que atrás do discurso de mulher poderosa, muitas mulheres sentiam-se engessadas no molde que elas próprias tinham criado sobre o que é uma mulher feliz e moderna.


É claro que a estética é uma ótima parceira na busca de autoestima, e que a busca pela beleza seja, talvez, o caminho que ajude mais pessoas a reencontrarem sua autoconfiança por exigir pouco, pelo menos num primeiro momento, mexer em questões internas, muitas vezes doloridas demais. Sem dúvida, é um caminho válido para se reconectar consigo mesmo. Incentivá-la só ajuda. A questão é quando ela vira só uma máscara e quando os excessos levam ao sofrimento e a mentira, ou pior, ao autoengano.

Quando o feminino te chama

De repente tive que parar tudo. Foi assim, sem (quase) prévio aviso que fui surpreendida pelo telefonema informando-me que minha mãe tinha sofrido um acidente doméstico. Aos 75 anos, com saúde delicada por outras doenças, quebrar o fêmur e o úmero não eram a melhor notícia que eu pudesse receber.

Parar tudo talvez não fosse o melhor mas era o que meu coração pedia. Como mulher estava vivendo o que ouvi ao longo do Projeto Mulheres: o impulso que temos de absorver e tentar resolver tudo sem abrir mão de nenhuma responsabilidade. Mas decidi que não faria tudo, desta vez não; por isso optei por parar alguns assuntos como este blog, mesmo que isso prejudicasse o fluxo de trocas que estava começando a se instalar. Assim, com fé que o que nos pertence volta quando queremos, decidi puxar meu lado masculino e me focar.

Claro que contei com a compreensão dos meus amados mais próximos, meus colaboradores e meus clientes. Sei que isso deve ter, como sempre, algo de sorte, mas também de busca por esse tipo de parceira.

Óbvio que o período me trouxe várias reflexões aprofundando em mim os efeitos do Projeto Mulheres em mim. Agora de volta, vamos continuar refletindo, sobre as mulheres e o mundo que estamos ajudando a construir?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um dos desdobramentos da sina feminina: a autossuficiência

Gostaria de comentar o quanto a crença de 'ser mulher é sofrer' está, em diversos níveis, presente em nós mulheres.  Em Recife, como comentado no post anterior, foi bastante claro para nós que essa é uma das crenças latente ao ponto de ser evidente e discursado com facilidade por boa parte das entrevistadas. 

Em São Paulo foi diferente. E não porque essa crença não está presente, pelo contrário, mas porque ela se encontra bem mais internalizada e de difícil acesso; mas ela ainda está lá dentro, pulsando forte, dentro de cada mulher que entrevistamos.

As entrevistadas de São Paulo são, sem dúvida, mais autossuficiente e individualizadas. E gostam de se colocar assim. Serem vistas assim. Na medida em que fomos descobrindo suas histórias de vida e suas atitudes perante alguns fatos, compreendemos que muitas fazem um grande esforço para se mostrarem autossuficientes, o tempo todo. Há um vangloriar-se de sua capacidade em fazer tudo sozinha, resolver tudo, de não precisar de ninguém na vida. E claro, de serem muito melhores que os homens. Chega, em alguns casos até não ser natural, tamanha a necessidade de deixar isso claro.

Porque a mulher precisa tanto de demarcar esse território de autossuficiência? a quem ela quer convencer? o que ela quer provar? do que ela tem medo?

Entendemos que um dos motivos - mas tem mais de um - foi a crença 'ser mulher é sofrer' estar presente. E por conta disso, as mulheres tentam negar de alguma forma, aquilo que considera que é ser mulher. E aqui aparece outra questão: o conceito do que entendemos que é ser mulher carrega, e muito, ainda, a associação com submissão, doação sem fim que exaure e faz sofrer. 

A imagem da mulher que sofre é tão forte que a construção da nova mulher se embasa nela, na negação dela. Assim, corremos que nem diabo da cruz, para o extremo oposto. Um exemplo de como essa crença atua em nós é o medo demonstrados por boa parte das entrevistadas na entrega amorosa, de se apaixonar.  Ficam controlando a entrega de seu amor e colocando, constantemente, os limites para o outro. Muitas manifestam que desejam e buscam uma relação igualitária - o sonho dourado da maioria - como se a vida e a relação amorosa, fossem uma balança fiel: contando e cobrando cada comportamento que fazem para que o outro faça no mínimo igual. Em alguns casos, a relação vira um campo de batalha, de cobranças sem fim onde um acha que está 'dando' mais do que o outro. 

Creio que ainda teremos um longo caminho, e aqui as mais jovens estão em vantagem, para construirmos uma mulher que se doa, se entrega e ama sem que o fantasma da 'mulher que sofre' se aproxime dela.