Projeto Mulheres

Projeto Mulheres

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Aparência física: opressão ou fortalecimento?

O debate sobre a importância que as mulheres dão à aparência ainda está longe de acabar. A busca, em alguns casos, incessante pela magreza e a beleza, tem levado muitas mulheres a fazerem desatinos colocando em risco sua saúde física, mental, emocional e financeira. Por isso, não é a toa que existam aqueles que considerem a exposição massante nas mídias de mulheres belas, jovens e magras como formas modernas de manipulação social e psicológica de mulheres. Para algumas linhas feministas, tudo orquestrado pelo poder masculino que não se conforma em ter perdido sua majestade.

Sem dúvida, a mídia é exaustiva quando mostra como a beleza de fato conquista sucesso - e aqui considerando o 'sucesso' vendido por ela, aquele que é composto de dinheiro, fama, poder, pessoas bonitas e felizes que nos amam muito. A mídia também diz como essa beleza deve ser, padronizando tipos e estilos, sempre sob o pretexto de nos ajudar a ser 'nós mesmos'.

É evidente que tantas mensagens midiática têm seus efeitos sobre as mulheres e que muitas  entrevistadas no Projeto Mulheres, trouxeram algum tipo angústia relacionada à aparência física. Assim, a busca pela beleza e magreza pode tornar-se, só para dar um exemplo,  mais um check list  a 'ter' que cumprir, na vida de quem tem "mil e uma obrigações", e que não vive o 'discurso igualitário' na vida real. Mal dá tempo para fazer as obrigações prioritárias, e ainda precisa se cuidar fisicamente, sob o risco de ser recriminada socialmente por não representar 'a mulher que se ama', leia-se a mulher moderna.

Porém, foi impressionante constatar que a busca pela beleza - mesmo midiática - ajudou muitas mulheres na últimas décadas a superarem desafios e dores. Significou, em muitos casos, a oportunidade de retomar, iniciando pelo físico, seu tempo, seu corpo, seu espaço, sua vida. Foi através do físico - caminho muitas vezes mais fácil e acessível - que as mulheres foram encontrando novas formas de expressão e de gosto pela vida. Foi no espaço da beleza que muitas  mulheres encontraram outras mulheres e com isso histórias similares e formas de trocas que contribuíram, em muito, para a superação.

E foi também no exercício de se embelezar, que mulheres focadas na sobrevivência financeira ou em se colocar no mundo do trabalho, até pouco tempo atrás, preponderantemente masculino, começaram a lembrar que eram mulheres. Começaram a redescobrir o prazer de se maquiar, de se cuidar, de voltar a ser mulherzinhas. No cuidado com a pele, encontrou o tempo, para parar e fazer sua 'meditação ativa', extraindo desses momentos, mais do que uma beleza física. 


Quem sabe o cuidado com a beleza também pode ter contribuído, de alguma maneira, para que as mulheres decidissem que era hora de parar e ser mãe de novo? São tantos fatores que se entrelaçam que fica difícil definir qual foi a origem do que, e também não existe a pretensão aqui de fazer essa exposição mas sim de mostrar que a beleza tem tido um papel muito importante na retomada do feminino pelas mulheres. 


Mesmo que tenha sido uma pressão social o ponta pé inicial, no exercício da prática, algo talvez adormecido começou a aflorar, aquela mulher mais feminina apareceu e começou a tomar conta de outras dimensões além da beleza, do físico. É só olhar em volta e acompanhar a moda mais floral, com seus vestidos, sejam estes longos ou curtos, exagerando nas rendas, tricot e bordados. Tudo isso, é claro, acompanhado pelos sapatos de plataformas e saltos altíssimos, para nos lembrar que feminina sim, mas poderosa e dona do seu destino, também.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O aspiracional feminino: aparência, poder financeiro e prazer sexual

Perguntamos as nossas entrevistadas o que desejariam ganhar num passe de mágica e as escolhas foram quase unânimes: melhorar a aparência física, ter mais dinheiro e mais prazer sexual. Fica claro, num primeiro momento, que o sonho geral é ser uma mulher poderosa, dona de si e do mundo. Bonita e gostosa, com ampla liberdade para a busca de seu prazer sexual e exercer, sem culpas, o jogo da conquista. Tudo isto, claro, sustentado por um poder de consumo infinito. 


Essa resposta veio tão fácil e quase unânime que se não tivéssemos cuidado, acreditaríamos piamente nela. Por isso decidimos, rever e parar para analisar melhor. Compreendemos assim, que existe uma mulher criada pela mídia que exerce um fascínio sobre a maioria das mulheres. Essa mulher símbolo é aquela 'pós ombreiras' que depois de conquistar o espaço público durante as últimas décadas, já inserida no mercado de trabalho, dividindo ou até sustentando a sua casa e família; agora está querendo cuidar novamente de si, ou seja, voltando-se para si mesma, para seu espaço privado.


Como todo movimento pendular no processo de evolução humana, a volta nunca se é no mesmo nível do ponto anterior. Em cada movimento há um avanço, em cada extremos há aprendizados apreendidos que são elaborados e assimilados levando a mudanças comportamentais. Por isso, nossa mulher símbolo do século XXI mesmo voltando-se para si, não o faz recolhendo-se, buscando sua verdadeira essência na intimidade; ela já conhece o âmbito público e seus códigos, e de tanto apreender a lidar com eles, talvez tenha até se esquecido de ser somente ela. Assim, mesmo sendo um movimento em direção a si mesma,  ela o torna público utilizando códigos externos que lhe garantem o reconhecimento do sucesso da empreitada na sua viagem a si mesma.


Cuidar de sua estética, estar na moda e agora ser uma amante resolvida, são códigos que demostram publicamente que ela se ama e que tem autoestima bem resolvida. Se amar é quase um mantra para a mulher moderna. Não priorizar-se é quase não se amar, o que significa uma ofensa contra todas as mulheres. A cobrança social que as mulheres fazem sobre aquelas que estão menos preocupadas em aparentar tanta autoconfiança é grande. Há quase uma militância feminista que vigia todas nós mulheres, e o pior que muitas vezes nós fazemos parte dela. 


E é aqui que mora o perigo. Percebemos que atrás do discurso de mulher poderosa, muitas mulheres sentiam-se engessadas no molde que elas próprias tinham criado sobre o que é uma mulher feliz e moderna.


É claro que a estética é uma ótima parceira na busca de autoestima, e que a busca pela beleza seja, talvez, o caminho que ajude mais pessoas a reencontrarem sua autoconfiança por exigir pouco, pelo menos num primeiro momento, mexer em questões internas, muitas vezes doloridas demais. Sem dúvida, é um caminho válido para se reconectar consigo mesmo. Incentivá-la só ajuda. A questão é quando ela vira só uma máscara e quando os excessos levam ao sofrimento e a mentira, ou pior, ao autoengano.

Quando o feminino te chama

De repente tive que parar tudo. Foi assim, sem (quase) prévio aviso que fui surpreendida pelo telefonema informando-me que minha mãe tinha sofrido um acidente doméstico. Aos 75 anos, com saúde delicada por outras doenças, quebrar o fêmur e o úmero não eram a melhor notícia que eu pudesse receber.

Parar tudo talvez não fosse o melhor mas era o que meu coração pedia. Como mulher estava vivendo o que ouvi ao longo do Projeto Mulheres: o impulso que temos de absorver e tentar resolver tudo sem abrir mão de nenhuma responsabilidade. Mas decidi que não faria tudo, desta vez não; por isso optei por parar alguns assuntos como este blog, mesmo que isso prejudicasse o fluxo de trocas que estava começando a se instalar. Assim, com fé que o que nos pertence volta quando queremos, decidi puxar meu lado masculino e me focar.

Claro que contei com a compreensão dos meus amados mais próximos, meus colaboradores e meus clientes. Sei que isso deve ter, como sempre, algo de sorte, mas também de busca por esse tipo de parceira.

Óbvio que o período me trouxe várias reflexões aprofundando em mim os efeitos do Projeto Mulheres em mim. Agora de volta, vamos continuar refletindo, sobre as mulheres e o mundo que estamos ajudando a construir?